Há três anos, numa missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta em 08 de setembro, festa da Natividade de Nossa Senhora, Francisco em sua homilia perguntava: “Como está o coração de cada um de nós? Está em paz?”. Ao ouvir uma questão assim tão direta, dificilmente alguém conseguiria escapar de enfrentar a si mesmo e examinar sua consciência para responder.
Olhando para a humanidade atual parece-nos que esse bem chamado Paz, anda faltando. Especificamente, olhando para o nosso país, parece-nos que estamos caminhando mais na direção do ódio do que trilhando o caminho da paz. De nada adianta pedir a Deus paz no mundo, se em nós mesmos não cultivamos a paz. Ela é um dom, mas precisa ser construída a cada instante, todos os dias. Ensina-nos Francisco: “Felizes são aqueles que semeiam paz com as suas ações diárias, com atitudes e gestos de serviço, fraternidade, diálogo, misericórdia. Fazer a paz é um trabalho que devemos realizar todos os dias, passo a passo, sem nunca nos cansarmos”.
Rezamos pela paz em todas as missas, mas é preciso ser um pouco mais radical– é preciso encarar a construção da paz ao nosso redor, em nossa família, em nossa escola, em nosso trabalho e nosso país. “Não são suficientes os grandes manifestos pela paz, os grandes encontros internacionais, se depois não se realiza esta paz no pequeno, em nós mesmos”, esclarece Francisco. É nas pequenas coisas, todos os dias, que vamos construir a paz universal. “Se você não é capaz de levar adiante a tua família, o teu presbitério, a tua congregação, levá-la adiante em paz, não bastam palavras de paz para o mundo”.
Podemos nos perguntar com que instrumentos vamos construir o caminho da paz entre nós. De nada adiantam as palavras esplêndidas, as orações solenes, se o coração do homem se nutre de ódio, de intolerância, de desejo de vingança, de vontade de aniquilar o outro. Os instrumentos da paz não são feitos para a própria defesa, mas para a preservação da vida e da comunhão entre as pessoas. Se temos medo do outro é porque o caminho que construímos não está asfaltado com a paz.
O chamado de Jesus é muito claro quando nos diz em Mateus 5, 9 “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus”. Ser pacificador não é mero desejo ou intenção, mas ser promotor, construtor. A paz precisa ser construída. Ela não acontece espontaneamente. E somente assim podemos ter a certeza de sermos filhos de Deus.
Em outra ocasião Francisco nos diz: “É uma absurda contradição falar de paz, negociar a paz e, ao mesmo tempo, promover ou permitir o comércio de instrumentos para a não paz”. Os cristãos devem empreender seus esforços para a fabricação de instrumentos da paz e somente assim podem rezar como Francisco de Assis o fazia há centenas de anos: “Senhor, fazei de mim um instrumento de sua Paz!”.
Edebrande Cavalieri
Doutor em Ciências da Religião
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