SINODALIDADE EM TEMPOS DE AMIZADE SOCIAL

10 novembro, 2023

A sociedade brasileira nos últimos dez anos sofreu um forte impacto no seu modo de viver e conviver socialmente, produzindo uma divisão radical em dois polos ou dois grupos que se fecham em suas convicções políticas, religiosas ou culturais. A disposição para estabelecer relações de diálogo definha a olhos nu. A situação é tão marcante que 78% dos brasileiros sentem que a sociedade ficou ainda mais dividida e 80% que cresceu a falta de respeito entre as pessoas.

Conforme a pesquisa feita pelo Instituto Edelman Trust Barometer em 28 países incluindo o Brasil, divulgada em abril desse ano, apenas 21% das pessoas estariam dispostas a ajudar alguém que pensa diferente delas e 22% apenas dispostas a trabalhar com alguém que tem ponto de vista diferente. Qual a percentagem de pessoas que estariam dispostas a rezar com grupos divergentes? Essa é uma ótima pergunta para um exame de consciência de cada cristão.

A polarização social transpôs as fronteiras sociais e atingiu frontalmente a Igreja de Cristo. Essa é a grande preocupação do magistério do Papa Francisco e da Igreja atual. Como enfrentar esse desafio? A divisão ao longo da história foi motivo de grande preocupação desde a era apostólica.

Qual o chamado que está sendo feito pela Igreja a todos os católicos? Com certeza, não é para fingir que nada está acontecendo. Não é para entrar num “faz de conta” que convivemos pacificamente. Somos chamados para viver um estilo da sinodalidade, buscando caminhos de reconciliação, de esperança, de justiça e de paz. Como superar a polarização e caminhar na amizade social?

Trata-se de um caminhar juntos como batizados, na diversidade de carismas, de vocações e de ministérios. Não é cada um cuidando do seu quadrado ou cada equipe eclesial cuidando apenas de sua função! É preciso reconstruir o rosto sinodal da Igreja como modo de atuar e trabalhar, como caminho conjunto do Povo de Deus, em diálogo fecundo de carismas e ministérios a serviço da vinda do Reino, que também já está entre nós. São Paulo nos diz que “todos fomos batizados por um só Espírito em um só corpo” (1Cor 12, 13).

No dia a dia essa imagem apresenta-se como um grande desafio. A sinodalidade não é ausência de conflito em uma Igreja que está “normalmente” em unidade. A Igreja não é um “grupículo” de anjos!  Como lidar com os conflitos? A prática sinodal apresenta-se como resposta profética da Igreja frente ao individualismo da própria Igreja, do populismo que divide e de uma globalização que homogeneíza e aplaina tudo impondo asfalto duro para peregrinos descalços.

Na Assembleia Sinodal realizada há poucos dias em Roma, a proposta metodológica foi iniciar com uma vigília espiritual denominada Together, juntos. Diante dos novos desafios, a Igreja propõe-se a uma reforma permanente que atinge três dimensões: conversão das mentalidades, mudanças de posturas e renovação institucional. No caminho sinodal não existe um grupo que ganha ou vence e outro que perde. Precisamos enquanto comunidade aprender a viver com consensos sofridos e plurais que não significam unanimidade. Esta é característica de regimes autoritários.

Os conflitos internos e com o mundo são desafiadores e profundos, porém eles nos ajudam a chegar a uma visão mais clara de nossa identidade cristã na medida em que se dá um processo dialógico de escuta paciente e escuta mútua. Quando não se tem tempo ou não se está disposto a escutar nem adianta achar que o tempo irá resolver nossos conflitos. Apenas ficarão cada vez mais graves. Cada cristão e, de modo especial, cada católico é chamado pela Igreja a um processo de conversão e de escuta.

Numa Igreja sinodal há espaços para divergências e conflitos e não podemos evitá-los. Não é fazer assembleia e colocar em votação para se saber quem venceu determinada questão. É preciso chegar ao ponto de transcender as abordagens conflitantes para encontrar outros caminhos melhores. Isso não é democracia, mas discernimento à luz do Espírito Santo. Se em um determinado ponto não se chegar a um consenso, é preciso ter paciência, ter tempo, ter humildade. O Espírito Santo vai agir na medida em que estivermos disponíveis para escutá-lo. O Documento sobre a sinodalidade publicado pela Comissão Teológica Internacional afirma que o caminho sinodal é o que “Deus espera da Igreja no terceiro milênio”.

Edebrande Cavalieri

 

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